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Larissa Honorato

querido raio de sol,

acredito que leituras são demasiadamente particulares. eu interpreto de acordo com o meu repertório e a minha realidade - e você faz o mesmo. é por isso que eu acho tão legal a ideia de que as pessoas podem ler um livro e algumas amarem, outras odiarem, outras ficarem confusas, mas a melhor sensação é que você nunca sai o mesmo depois de uma leitura.

quando nessa mesma época, um ano atrás, eu me debruçava frente à tela de computador, não tinha ideia do impacto que um simples texto, redigido com carinho, pudesse causar. veja, é bastante contraditório com o que eu acabei de escrever, mas acho que a vida é meio que um compilado de momentos contraditórios.

enquanto escrevia, também pensava sobre um livro rígido, capa dura, gramatura grossa de papel. um livro robusto, mas que, ao abrir, continha até algumas ilustrações. veja você, um livro adulto, grosseiro e quando abre tem desenhos? decepcionantemente apaixonante! - era assim que imaginava as pessoas convivendo com você. a cada página uma nova curiosidade, uma leitura leve, mesmo com aparência de rigidez.

acontece que, às vezes, seja lá qual for o motivo, até mesmo os nossos livros favoritos voltam para estante; mesmo que a leitura destes sejam deliciosas, reconfortantes e familiares. quando colocamos a nossa leitura favorita de volta na estante, somos preenchidos por uma sensação agridoce - felizes de ler novamente, tristes por ter terminado mais uma vez. não tem nada de errado com o livro, muito menos com o leitor, é só o momento literário.

penso que os livros também tem seus leitores favoritos - aqueles que os leem com cuidado, que fazem anotações da leitura, que por vezes leem as palavras em voz alta e fazem expressões faciais diversas enquanto leem. "finalmente alguém que aproveita e se deleita!" - é o que eles diriam, se pudessem falar.

e a dinâmica "meu livro favorito" e "meu leitor favorito" funciona muito bem desde que nenhuma das partes não se camufle no favoritismo ou na gula de não dividi-lo com o mundo. ora, para que vou permitir outros leitores se esse aqui suporta até meus erros gramaticais? por que eu trocaria de livro se eu já conheço essa história? pra que precisaria de um novo leitor?

bom, aqui retomo meu pensamento inicial: você nunca sai o mesmo depois de uma leitura.

quando li crepúsculo aos treze anos, eu definitivamente era Team Edward, mas uma simpatizante Team Jacob - aqui você tem licença poética para piadas sobre sempre ter sido "em cima do muro". foi só quando eu li outros livros que consegui entender que o Edward precisava de terapia e de uma boa chave de perna, o Jacob era um gostoso sem autoestima alguma, e a autora, bom, essa precisava de bastante análise que eu nem sei por onde começar.

divagando um pouco, eu só consegui ter novas visões com o passar do tempo, lendo outros livros e debatendo com outros leitores. caso contrário, arrisco dizer que continuaria com a narrativa viciada que eu queria namorar um Edward e bem, sabemos que ele não é muito bom partido, né?

eu era daquelas que acreditava fielmente que não deveria emprestar nenhum livro. eles eram de minha posse e eram muito pessoais. mas que injusto deixá-los acumulando poeira na estante até eu resolver lê-los novamente, não é? acho que no fundo, eu também tinha medo que outras pessoas vissem os erros gramaticais que eu vi ou que não achassem o livro nada demais e não entendiam porque eu o adorava. acho que no fundo, eu tinha medo que me entendessem pelas minhas leituras e me condenassem por elas.

mas além de não permitir que os outros conheçam sua biblioteca, dói mais alterar de papel e, de leitora favorita, passei a ser o livro na estante, aguardando meu momento de brilhar novamente. juntou-se pó, muita sujeira e nada de ser lida novamente - e sei que muitas vezes, você também se sentiu assim.

eu, cansada de esperar por aquele leitor favorito, pensei ser justo para este livro, permitir que outros leitores conhecessem a história. hoje penso que tudo bem permitir que outras pessoas vejam minha biblioteca, que tenham suas conclusões, que me devolvam os livros com algumas marquinhas novas e dividindo comigo suas interpretações, porque você nunca sai o mesmo depois de uma leitura, e é justo que eu não controle a leitura de ninguém, certo?

e acredito que, de certa forma, ano passado foi quase uma premonição - ou uma maldição, dependendo do seu ponto de vista - que você acatou e transformou em um mantra. desde então, surgiram novos leitores, alguns machucados e rasguinhos nas páginas, e outras anotações grifadas como importante, mas acima de tudo, você entendeu a importância de dividir e disseminar esse livro.

sou ridiculamente feliz por teu incentivo em permitir que uma nova leitora me visse mais do um livro e você absorveu tudo, ficando na estante apenas tempo o suficiente para entender que estava na hora de compartilhar novas histórias.

com amor,

Larissa.

setembro 18, 2023 No comentários

eu tinha dezessete anos quando comecei a estudar fotografia. talvez as teorias e conceitos da física nas aulas da escola tenham sido a única matéria dessa disciplina nas quais eu, efetivamente, prestei atenção. quando fiz um curso sobre o tema, devia ter uns vinte anos e, desde então, entendi que eu gosto de registrar momentos em que a iluminação captada pelas lentes mostre contrastes impactantes. fechos de luz, pretos e brancos marcados, sombras realçadas pelo excesso de luz vinda do sentido oposto.

talvez seja uma boa forma de ilustrar como eu te vejo há algum tempo. o guarda-roupas composto por uma quantidade obscena de peças pretas, as botas desgastadas, o cabelo escuro, os cílios longos e a sobrancelha preenchida são complementarmente opostos ao seu jeito doce, meigo, gentil e maliciosamente ingênuo que flui tão naturalmente de você. às vezes eu acho que você nem percebe.

é comicamente inquietante a quantidade de risadinhas seguidas da confissão "não entendi" vinda de alguém que prestou tanta atenção em detalhes meus que nem eu mesma me dava conta que estavam ali (e que soltei em conversas despretensiosamente convincentes). atentamente distraída, eu diria. na versão moderna de revelar as fotos (ou apenas transferir de um dispositivo obsoleto para um não-tão-obsoleto assim), percebo que num susto apertando efusiva e timidamente o botão de uma câmera outrora esquecida na gaveta, traduzi em imagem o que tentei escrever.

antônimos e pleonasmos ficam redundantemente significativos com você.

junho 13, 2023 No comentários


andamos cerca de um quilômetro até virar à esquerda em um píer comprido, cheio de vegetações que nunca tinha visto antes e caminhamos mais um pouco até pararmos em frente à areia branca e quente. ficamos em silêncio por alguns minutos, em pé, sentindo os cabelos tomarem outras formas por conta da maresia. até que ela interrompe, a respiração alta, daquelas que indica que virá algum tipo de confissão na sequência.

"esse é um dos meus maiores, medos, sabia?", era uma pergunta retórica então apenas espero que ela continue. "o mar. quero dizer, acho que esse É o meu maior medo. é lindo, é muito majestoso, grande, mas nunca se sabe o que dá para encontrar nele. por exemplo, no fundo tem animais que nem se quer conhecemos, que nunca viram a luz." continuamos encarando o horizonte sem trocar olhares e reflito em silêncio, em companhia ao devaneio verbalizado. "também é do mar que vem os tsunamis. eu tenho verdadeiro pavor de tsunamis. não gosto nem de pensar.". de repente, ela parece estranhamente aliviada e feliz e, nos minutos seguintes, continua elaborando suas teorias sobre o que existe no mar e o que lhe causa medo, até que por fim conclui "é por isso que eu só consigo ir até onde me dá pé, onde a água bate na cintura".

há quem diga que tememos o que desconhecemos, há quem diga que tememos o que conhecemos. eu concordo com ambos, mas também acredito que temos medo daquilo que somos e não sabemos, e também daquilo que somos e não queremos reconhecer. isso, para mim, faz bastante sentido, sabe?

quando o silêncio tomou conta novamente, ficamos brincando com a areia enquanto o celular reproduzia a playlist que ela escolheu e cantarolávamos baixinho, enquanto casais e alguns ciclistas de diversas idades passavam atrás, cada um com seu ritmo de passada. secretamente, pensava sobre aquele medo que foi genuinamente compartilhado.

existe sim muitos motivos para temer o mar, as criaturas que nunca viram luz, os tubarões famintos, as ondas gigantes, mas também há muito o que aproveitar da maresia, da água morna, de boiar em águas tranquilas.

as coisas gigantes, como o mar, uma floresta completamente escura ou um céu muito estrelado, paradoxalmente criam a sensação de pertencimento e de insignificância. penso, mas não compartilho aquele pensamento naquele momento e resolvo escrevê-lo.

voltando para casa, continuo pensando sobre o medo, mesmo que já tenhamos trocado de assunto tantas vezes. encaro os cabelos louros e acho um tanto irônico que ela seja tão impetuosa e tenha um medo tão ordinário.

veja, não estou debochando do medo de ninguém, mas para quem já nadou com tubarões, se afogou com âncoras de outros barcos, alimentou as baleias, desviou de água vivas, e ainda assim, não deixou em nenhum momento de acreditar que o mar em algum momento iria parar de arrastá-la para baixo, agora que reflito sobre o medo, parece irônico que ela duvide da própria capacidade de aproveitar a possibilidade de boiar um pouco sozinha.

março 01, 2023 No comentários

tem sido uma semana interessante no mundo da música mainstream: tivemos o lançamento de flowers da miley cyrus que é uma verdadeira ode a autoestima e autossuficiência. também veio aí o hino do shade para homens medíocres cantado por shakira.

existe todo um misticismo de que as pessoas tem escrita mais criativa quando estão tristes ou com raiva. eu me vi, por diversas vezes, acreditando nessa premissa e inconscientemente não me incentivando a escrever quando estou feliz porque (abre aspas) o texto não ficará tão bom ou profundo (fecha aspas). e isso não é diferente no mundo da música - tendemos a cantar a plenos pulmões as canções que entoem as emoções tidas como negativas ou ruins porque, talvez, fique mais fácil de lidar com elas.

mas também é porque não suportam a ideia de ver uma mulher feliz sozinha se isso fere o ego ou a reputação de um homem. por exemplo, miley foi super elogiada por malibu ser uma música felizinha que fala sobre amor, mas quantas vezes foi criticada por lançar músicas como mother's daughter ou plastic hearts que também são músicas alegres, mas as letras são recheadas de autorreconhecimento e imposição de limites? o que gera tanto incomodo?

Fonte | Twitter

o óbvio em relação ao piqué e a shakira é que ela constantemente está sendo atacada como a imatura, a que não superou o relacionamento, a que está querendo lucrar em cima do fim do casamento e, mais uma vez, a cobrança da maturidade, da maternidade de um homem adulto formado e a responsabilidade pela boa reputação dele enquanto um pai e ex-marido ficam sob responsabilidade dela. nem depois de absurdos dentro de relacionamento ela tem o direito de expor o que sente.

"ah, mas precisava?" sim, ela é uma artista. alguém está atazanando o justin timberlake por ter feito um clipe de cry me a river com uma sósia da britney spears? ou por ter lucrado horrores com o lançamento de what goes around... comes back around? hm, foi o que eu pensei.

o justin nunca teve que ajudar a reconstruir a reputação da britney. nem o whindersson da luisa sonza. nem o brad pitt da angelina jolie (eu poderia citar, literalmente, mais de mil referências, mas acho que vocês já estão conseguindo entender, assim espero). todas as mulheres tiveram que, por conta própria, enfrentar o julgamento de toda uma sociedade com suposições e conclusões infundadas. todas elas foram responsáveis pela construção e reconstrução da própria imagem. e também responsáveis pelos homens com os quais se relacionaram - não a toa, qual é a imagem pública que todos têm desses queridos? a carga sempre fica conosco, mesmo quando há a mesma forma de expressão artística.

em nenhum momento shakira ou miley falaram que a música foi para os exs. e por que é de responsabilidade delas que eles pareçam bonzinhos quando eles não foram? por que elas não tem o direito de expressar a plenos pulmões a dor delas? por que a reputação deles é mais importante do que como elas se sentem?

"eles seguiram a vida e não estão falando mal delas por aí" há quem comente. bom, talvez eles não estejam falando mal justamente porque não há muito o que ser falado. talvez não seja proporcional ou cabível vir a público criticar a ex, publicamente ou não, depois de tanta negligência emocional. ainda assim, com tanta ferida, fica a carga para elas de lidar com os próprios sentimentos, os ataques vindos de todos os lados e a reputação desses queridos.

socialmente não estamos prontos para vermos mulheres responsabilizando publicamente homens adultos por seus erros e ser responsabilidade única e exclusivamente deles a reconstrução da própria imagem, mas já estamos bastante acostumados e coniventes quando é o contrário.

mas bom, para quem continua incomodado, as mulheres já não choram mais, as mulheres faturam.

Fonte | Twitter

janeiro 15, 2023 No comentários

há meses eu me evito criar versões ruins de você.

toda vez que penso em como você me machucou e continua me machucando com suas decisões, em como eu não fui tratada com carinho, como eu fui deixada de lado, mês após mês, como um brinquedo que você simplesmente cansou de usar, mas se recusava a jogar fora. toda vez que eu penso que eu estava ali, empoeirada na prateleira porque você queria que eu continuasse te assistindo brincando com outros brinquedos, mais jovens e mais fúteis que eu, e ainda assim te admirar, te colocar como a criança mais legal que eu conhecia - afinal, quem não quer ser adorado desse jeito, não é? - toda vez que eu penso nisso, eu sinto uma dor que me dilacera, que me rasga, que me corrói por dentro e imediatamente sou acometida por uma culpa.

é estranho, não é? pensar que não podemos pensar mal de quem nos fez mal? é que ninguém quer ser visto como uma criança ruim. mas você também foi uma criança ruim. por meses para mim você foi a pior delas porque você não queria que eu fosse para doação, nem vendida, nem que conhecesse novas crianças porque isso, automaticamente, significava que você poderia não ser a minha criança favorita ou a melhor delas. e a pior parte, é que você nem queria brincar comigo, mas também não queria que eu fosse embora.

você não me permitiu nunca te ver com maus olhos. te ver como você realmente é - porque o ruim também te pertence, você não é todo bom, ninguém é, mas no seu caso, você se recusa a acreditar nisso, você se recusa a ver a parte ruim e cobra incessantemente quem não te vê por essa perspectiva. toda vez que eu ousava questionar ou pensar algo ruim sobre você, imediatamente como uma criança mimada você cruzava os braços e me fazia ver as coisas do seu jeito. você não me deixou de propósito na prateleira. não era sua culpa que eu estava empoeirada. não era sua culpa me colocar para adoção, não era você que precisava me dar tchau. você não tomou nenhuma dessas decisões de propósito e eu precisava te entender. sempre houve uma justificativa e eu sempre ouvi e aceitei todas elas.

você jamais pensou em como era dolorido ficar te assistindo na esperança que a minha hora de brincar e de ser uma das escolhas ainda viria. na esperança que você me escolhesse. e além de lidar com a frustação de querer ser escolhida e nunca chegar a minha vez, eu também precisava entender o porque você não me escolhia, afinal, você estava descobrindo o parquinho aos vinte e sete anos, como se nunca tivesse descido para brincar antes. e eu entendi, e eu aceitei, e eu continuei por muito tempo na prateleira. te ouvindo, te ajudando, inclusive, a escolher novos brinquedos. te ajudando a se ver como a criança mais legal, mais interessante porque você precisava de mim para te afirmar isso incessantemente já que você não acreditava nisso.

até que você não precisou mais, mas eu continuava na prateleira. nem o carinho de me tirar da prateleira e me dizer tchau, agradecendo por ser seu brinquedo favorito por anos você teve coragem de fazer. quando o peso do pó se acumulou nos meus ombros e ficou difícil de respirar e a minha esperança foi dilacerada após tantos dias esperando um olhar, um afago, um afeto que nunca vinham sem eu pedir, que nunca vinham genuinamente porque você se lembrava que eu ainda estava lá, eu me vi na obrigação de me jogar de lá de cima, sabendo que mesmo que se eu me arrebentasse na queda, era melhor do que continuar ali, imóvel, esperando por algo que nunca mais viria.

deve ser muito gratificante ser adorado tanto assim por alguém. estar no topo da pirâmide, preencher o ego, a sensação de ser indestrutível e que nada te abala, que você é invencível porque alguém te vê de uma forma tão gratuita e genuinamente boa. acho que isso faz você acreditar que você é um ser humano sensacional e deve ser difícil mesmo sair desse lugar.

e foi por isso que eu aceitei por tantos meses continuar te vendo com bons olhos. porque é muito difícil aceitar a realidade que, alguém que eu admirava tanto assim fosse capaz de me deixar tão empoeirada por tanto tempo - por mais até do que eu achava que tinha sido, que eu fosse tão facilmente esquecida. não era possível que todos esses anos de adoração, de devoção eu fosse deixada assim tão superficialmente por outros brinquedos porque você é incapaz de brincar sozinho.

e agora, quando eu finalmente aceitei que você fez tudo isso, ainda que não intencionalmente, eu ainda fiquei ali esperando por algo que você prometia e nunca vinha. com a queda além da dor de finalmente me libertar daquele lugar, de me libertar de uma esperança vazia, me libertei de ter que te entender e te admirar a todo custo, também tive que lidar com a dor de aceitar tão pouco por tanto tempo, de me machucar te ajudando a escolher os brinquedos que você queria enquanto eu ainda estava ali porque você era incapaz de se decidir, tive que lidar com tantas dores que você jamais terá alguma ideia porque você não sai do playground e já tá na hora de parar de brincar, mas entre todas as decepções, a maior delas é perceber que a criança que eu tanto admirava, é tão medíocre e ordinária quanto todas as outras que continuam no parquinho.

dezembro 06, 2022 No comentários

gosto muito de observar as pessoas. tenho essa ideia de que pessoas são como livros inacabados e sempre fico muito curiosa para saber quais foram os capítulos anteriores e o que estão escrevendo neste momento. também me interesso muito sobre o que gostariam de escrever no futuro.

enquanto leio as pessoas por aí, tenho percebido algumas coisas muito interessantes. a primeira delas é que, tem algumas que se acham o melhor livro já escrito e tem outros que se escondem na prateleira por acharem que não tem nada demais a oferecer. no geral, os dois colidem e o da prateleira nunca tem muito espaço para escrever nas próprias páginas e acaba por se preencher com histórias alheias.

a segunda coisa, é que parece que todo mundo está sempre se esquivando de alguma coisa. até mesmo os que são super convencidos de suas histórias maravilhosas. parece que todo mundo já se ralou muito e colocou merthiolate e, agora quando estão no parquinho, usam de todos os artifícios e técnicas possíveis para evitar eventuais quedas, arranhões ou qualquer ferida. vamos na gangorra, mas não pule quando estiver no alto. vamos no balanço, mas não muito rápido - e se estiver muito rápido, finque os pés no chão para frear bruscamente. no escorregador, desce devagar, segurando nas laterais.

é até um pouco cômico observar. ora, como se quer estar no parquinho e achar que é possível prever todos os riscos, milimetricamente calculado? e falo isso até por mim mesma. parece bastante óbvio que estar exposta significa, obrigatoriamente, estar em risco. e exige uma determinação e imaginação gigantesca para prevenir todos eles.

a terceira coisa que tenho observado, e acredito que tenha concluído sobre as pessoas, é que estão todos com medo e um pouco cansados de cair, mas nenhum se recorda ou se atenta ao fato de que, desde muito pequenininhos, tiveram coragem o suficiente para levantar e remendar-se. cicatrizes aqui e ali, mas nenhuma delas matou.

é engraçado porque tem toda uma imagem de fachada de empoderamento, de segurança, de certeza e ai daquele que duvidar dessa imagem. mas, olhando de perto, ninguém realmente acredita na própria coragem. e é nessa que acabam por derrubar uns aos outros, por remendar-se com substancias. é uma batalha invencível evitar o inevitável. ninguém quer sofrer, mas é impossível não sofrer.

e não seria a tentativa de não sofrer o verdadeiro sofrimento?

sei lá.

novembro 02, 2022 No comentários

talvez uma das maiores confusões humanas seja a nossa eterna busca pelo extraordinário. passamos boa parte da vida tentando ser excelentes na escola, no trabalho, nas amizades, nas relações amorosas; fugindo da mais remota possibilidade de sermos medíocres e, raramente, nos dando conta de que, o medo de ser clichê é o maior clichê que existe. que paradoxo.

"seriamos muito melhores se não quiséssemos ser tão bons" disse freud certa vez. ou qualquer pessoa que também tenha sido inteligente e atribuiu a fala a ele por não ter a mesma fama. bom, seja lá como for, o fato é que eu também tenho muito medo de ser medíocre, de ser pequena. de ser esquecível.

e é até um pouco engraçado tamanha ingenuidade que temos ao assumir que é possível ter qualquer tipo de controle sobre o que pensam da gente ou como vão reagir ao que fazemos. por isso, sempre tentamos prever todos os cenários possíveis, desde as cenas mais trágicas até as mais bonitas, como se isso fosse capaz de prever qualquer elemento surpresa. eu chamo de loteria mental. uma situação, cinquenta milhões de cenários. o outro vai escolher um dos que você já previu.

mas aí é que tá. assim como na loteria, você tem uma chance entre cinquenta milhões. você é um. o outro tem outra chance entre cinquenta milhões. eu sou horrível em matemática, mas algo me diz que exponenciar tanto assim, faz com que seja ainda mais difícil ser capaz de prever todas as variáveis.

quando terminei meu primeiro e único namoro até então, eu não queria me identificar tanto assim com taylor swift, ou com a olivia rodrigo, ou com os milhares de filmes sobre encontrar sua própria felicidade sozinha, viajando por aí. eu tinha uma certeza absurda de que eu sabia quem eu era e o que eu queria. tão forte que não fazia sentido, de fato, ter terminado, já que eu sabia como eu queria ser tratada, os programas que eu gosto de fazer, os lugares que eu quero conhecer. como num belo roteiro. eu já tinha previsto todos os cinquenta milhões de cenários. mas a escolha de um deles, faz com que você precise pensar nas variáveis também. se formos, sei lá, pelo caminho 3, dentro dele tem mais 50 milhões de possibilidades.

e ser imaginativo assim é ótimo, dizem que eu escrevo belos textos, como esse aqui e acredito que renderiam belas músicas também, se eu ao menos soubesse compor. mas imaginar é bem diferente de viver. imaginar sofrer é bem diferente do que sofrer, de fato. imaginar felicidade é bem diferente de ser feliz. podem tentar imitar as sensações e sinapses de comer um delicioso bolo, mas jamais será igual a sentir o macio da massa preenchendo a boca, o gelado do garfo encostando na língua.

talvez o metaverso seja o exponencial do medo de ser clichê, pensando por um lado, né. enfim, só criando mais cenários aqui.

o ponto é que, apesar de ter tido essa certeza e me achar tão analisada assim também era o medo da mediocridade. se amarrar em certezas absolutas é mais uma forma de evitar a possibilidade da dúvida, da criação de mais cenários. os clichês são comuns porque muitas pessoas se identificam com ela e a gente sempre ouviu da nossa mãe que não somos todo mundo, mas somos. é estranho e um pouco chato, mas também é libertador.

novembro 02, 2022 No comentários
deitada no chão, sentia a angústia me engolir viva, como se fosse um buraco negro que puxava para si com força qualquer faísca de bons sentimentos que ameaçam enevoar minha cabeça.

havia alguns meses que eu não o via pessoalmente. aliás, há algumas semanas não conversávamos como antes. as longas noites em claro, as mensagens incessantes e os inúmeros assuntos em comum deram espaço para conversas superficiais e um pisar-de-ovos que me parecia ridiculamente estranho. costumávamos ser melhores amigos e até o silêncio nos era confortável, mas tornou-se o que eu mais temia, tornou-se o mais clichê das obviedades humanas. o silêncio virou sinônimo de vazio.

observadora, eu assistia todos os movimentos e mudanças. o cabelo dele, às vezes por fazer, a barba comprida, o sorriso mais branco e mais tímido também, mesmo quando se esforçava com quantidades, imagino eu, de altas dosagens alcoólicas. por um tempo, eu resolvi permanecer exatamente no mesmo lugar que estava antes, já há alguns meses, e assisti todas suas decisões com uma esperança tão intrínseca e tão igualmente masoquista de que, em algum momento, ele iria me escolher. e incessantes vezes ele escolheu a si mesmo, enquanto eu continuava disponível com algo dentro do peito que eu, ainda, não sabia identificar ao certo o que era.

diversos episódios de raiva e tristeza que fui guardando comigo como sempre aprendi a fazer, como se fosse minha responsabilidade unicamente lidar com aquilo. inconscientemente, como se eu estivesse constantemente em uma prova de resistência em que eu era o torturador e também a vítima num paradoxo que deixa lacan orgulhoso toda sessão.

e quanto mais raiva e tristeza eu sentia, mais diferente ele ficava aos meus olhos. de repente ficou bobo, fútil, estranho. como pode assim do nada deixar de conhecer alguém? quão rápido uma pessoa que ficou ali por tantos anos pode sair?

e eu já tinha passado por aquilo antes. foi ela, a garota que era o desejo dos meus amigos, a quem guardei e protegi todos os segredos e me deixou sozinha quando perdi minha vó. foi ela, minha amiga que jurou estar ao meu lado em todos os momentos e que faltou no meu aniversário quando meu pai estava na uti para aliviar o estresse com outros amigos. tiveram outros também até que, por fim, foi ele, que depois do furacão de dois anos isolado e quase-mortes, que sempre dizia preferir o equilíbrio, escolheu pelo desequilíbrio para estar todos os dias baladas cheias.


então, o que estava diferente dessa vez? por que eu continuava com a sensação frustrante de continuar em desvantagem?

"mas existe diferença entre tristeza e mágoa". uma frase tão simples quanto beber água, mas uma vez com sede, parece o mais divino dos líquidos.

o problema da mágoa é que você a carrega sozinha. é possível partilhar e compreender outros sentimentos em conjunto, mas a mágoa é muito pessoal. e ela fica ali sendo remoída, remexida, revirada e alimentada toda vez que algo vem a tona. e a mágoa vira rancor.

pensei que daria para aguentar mais essa e guardar junto com todas as outras, mas de alguma coisa tem que servir aprender sobre lixos e gavetas bagunçadas. de algo há de servir ouvir sobre lacan, jung e freud. já não eram meus aqueles cacarecos e, por mais que eu havia tentado devolvê-los, em todos os momentos foi me dito que ele também não queria aquele lixo, mas porque ele não os jogava fora? por que ainda continuava em minha mãos?

o nó preso na garganta me impediu de gritar tantas vezes, mas tenho conseguido desatar. e dessa vez, pela primeira vez, eu reuni todos os lixos e não me dei ao trabalho de etiquetá-los, colocá-los em sacolas e dar pronto para somente colocar no lixo. dessa vez eu apenas os reuni, de forma bastante educada, mas eu os entreguei para o dono. agradeci pelo empréstimo, mas lixo é lixo, e eu não precisava guardá-lo comigo.

quando o fiz, pela primeira vez disse que não os queria de volta e que ele precisaria lidar com eles. que eu não merecia toda aquela sujeira, mas que ela tinha que ser limpa por alguém e aquele alguém, não era eu, não mais. e ele pegou o lixo de volta com uma certa relutância. disse "desculpa, mas é que eu nunca quis sujar nada de propósito". e eu sabia disso, mas ainda que não se suje nada de propósito, ainda sujou e não sou eu que devo limpar apenas porque não foi de propósito.

exausta da mesma discussão sobre a sujeira, expliquei tudo isso e ele pegou o lixo de volta. dessa vez, pela primeira vez, manteve-se apenas no substantivo. "desculpa". já não me importava a conjunção e nem nunca deveria ter me importado. tudo que precisa às vezes é se ater ao simples, à palavra única, à sujeira. eu não precisava do mas. se foi de propósito ou não, não me importava, me importava lidar apenas com a minha sujeira.

e a exclusão da conjunção me trouxe um alívio tão imediato que senti que o buraco negro deu lugar a uma supernova.
e finalmente, fico feliz em te imaginar feliz porque finalmente acho que merece e que não me deve nada. tudo foi pago na desculpa, mas sem o mas.
setembro 13, 2022 No comentários

querido raio de sol, 

primeiramente, permita-me ter a licença poética - e bastante brega, talvez - de traduzir para português o apelido que acredito ter sido criado por mim, há bons anos, para me referir a você. ele foi baseado no seu sobrenome e espero que esteja esboçando um sorriso desde o começo dessa carta - que te encontre bem.

pensei por horas e horas como poderia começar a te presentear e, sim, consegui alguns itens materiais que vão ser entregues a ti porque você merece, fique tranquilo, mas além deles, eu queria te oferecer algo que fosse unicamente sobre nossa amizade e, bem, obviamente sobre você.

pensei, pesquisei, olhei referências até que tive uma ajudinha sua com um ímpeto de que, o melhor que eu posso oferecer é me debulhar em palavras. e resolvi registrá-las aqui, já que como bom amigo que você é, talvez seja o único leitor assíduo desse falido blog que virou um portal de lembranças.

então, cá estou com uma xícara de café coado bebericando uma porção de nostalgia enquanto penso em você, amigo, então me permita dizer algumas coisas.

quando te conheci, há um bocado de anos, tive a rara oportunidade de ir além da capa do livro que era oferecido a todos: levemente bad boy, humor ácido, mau humorado, irônico e bastante esquentadinho. confesso que seria mais fácil ter me prendido à imagem de que você era só o garoto que namorou uma garota que eu conhecia bastante e era esquentadinho o suficiente para ouvir metal e quebrar janelas por aí, mas você sabe que eu não brinco no raso e você também não.

desde lá, quando você era um furtivo com franja que lhe caía sobre os olhos e escondia metade do seu rosto e eu, uma garota magrela com cabelos alisados e insegura, nós encontramos nossas similaridades. primeiramente música, problemas escolares, amizades, depois corações partidos. com o tempo, você já não fazia mais tanta questão de ficar somente no humor ácido que, aos poucos, vieram acompanhados de abraços que cobriam minha cabeça e sorrisos largos dizendo que tudo era brincadeira.

mais tarde, nossas conversas se iniciavam sempre com um apelido breve, simples, mas bem carinhoso. moça. e falávamos sobre os próximos shows, festivais, sobre pé-na-bunda e possíveis novos romances. e tirava sarro de mim como se eu fosse sua irmã e eu cutucava a onça com vara curta como só eu sei fazer, o que rendia uma porção de caretas e dedos do meio estendidos, dos dois lados.

em nossa essência, talvez não tenha mudado tanta coisa, mas as abordagens hoje são benefícios de usar cartão de crédito, como compras no mercado são caras e como lidar com as inseguranças mais profundas. continuamos conseguindo conversar sobre qualquer tópico, mas eu consigo ver que, agora, aos poucos você tem conseguido deixar que as pessoas leiam o livro além da capa, como eu também fiz.



o problema de termos capas tão bonitas e bem feitas, é que no fundo, a gente tem medo que não gostem tanto do conteúdo do livro. imagina só, julgarem a obra apenas pela capa, exatamente como você fez tantas outras vezes? imagina só, perceberem que não foram injustos com você? ou, olha que coisa, talvez descobrirem que o livro é muito mais legal do que a capa?

o problema de não gostar de brincar no raso, é que brincando no fundo, dá um pouco de medo de não dar pé, de afogar, de faltar ar, de cansar e até de faltar um pouco de luz porquê, vai que o sol não chega lá. mas é aí que mora a graça do seu apelido. quem carrega em si raio de sol, não fica no escuro por muito tempo, não é?

posso dizer, por experiência própria, que você não deixa o escuro perdurar. quando eu resolvi que precisava mergulhar no fundo, onde ficava um pouco mais difícil enxergar, você não se importou de me ajudar a voltar pra superfície para respirar um pouco. e é isso que talvez eu sempre tenha enxergado em você, por trás de toda capa dura e bem formatada.

sempre esteve contigo a capacidade de fazer as pessoas rirem com tanta vontade a ponto da cabeça tombar para trás e emitirem sons estranhos no meio da gargalhada. também sempre esteve contigo os braços longos e esguios capazes de fazer a gente sentir que é capaz de aguentar qualquer coisa, até enfrentar apocalipse zumbi - que você adora falar que correria mais rápido que todo mundo e deixaria todo mundo pra trás, mas nós dois sabemos que é a maior mentira já contada. você mataria todos eles dando alguma equação impossível de ser resolvida e daria tempo de todo mundo fugir.

é bonito poder assistir à coragem dos outros. daqui te vejo corajoso, mesmo com medo de cansar, você quer mergulhar fundo porque sabe que é o único jeito de conseguir se livrar das amarras e desencalhar. daqui, continuo te vendo e admirando cada mergulho. espero que permita que mais pessoas mergulhem junto com você porque tua atlantis é um reino incrível - não seria eu, sem uma analogia à animações.

não posso garantir que todos gostarão do livro, mas posso garantir que vale a pena permitir que mais gente leia. não decida se as pessoas vão gostar ou não da história, mas permita que elas leiam e decidam. o livro não vai ser menos interessante se alguém não gostar - e se não gostar, devo dizer que tem um péssimo gosto literário, diga-se de passagem.

estarei aqui para ler cada página e para ajudar em cada mergulho. obrigada por me permitir ir além da capa e por sair do raso.

feliz aniversário. te amo.

com amor,

moça.

setembro 12, 2022 No comentários

Alguns segundos de uma voz agitada num aplicativo de mensagens "oi, desculpa a demora pra responder, esqueci mais uma vez, achei que...".

Me esqueceu, mais uma vez. Pauso a mensagem e escuto novamente. Fazer isso é um pouco masoquista porque te ouvir falar essa palavra me machuca, me frusta, mas eu acho que sempre aprendi a sentir prazer na dor, talvez amar seja um pouco isso. Ouço novamente "esqueci". Esquecer.

Já faz algum tempo que acho que você se esqueceu de mim. Teve aquela vez quando fiquei doente e te pedi um chocolate e você ficou frustrado estava sendo muito carente. Quando te perguntei se queria ir para algum lugar almoçar e escolheu a mesma balada pela décima vez. Ou aquela vez quando disse que não via sentido em postar fotos comigo porque não era assim que demonstrava seu amor por mim, mas foi assim que demonstrou seu carinho por uma desconhecida.

E eu assisti o esquecimento. Uma, duas, dez, inúmeras vezes. Te assistia me esquecer, permanecendo na plateia com medo de que, caso eu parasse de assistir, eu seria esquecida. Veja, que paradoxo!

Então fiquei ali, vendo, vendo, vendo, permanecendo, cedendo, me transformando para caber num espaço cada vez menor de memória, até virar uma caixinha de uma lembrança bonitinha numa prateleira que era fácil revisitar sempre que sentia saudades.

Enquanto você me esquecia, eu lembrava de você. Te lembrava de lembrar de mim. Fazia o trabalho por você, o de cuidar de você, o de fazer você se lembrar de você tanto, que não havia lembranças pra mim, nem dentro de mim mesma. 

Eu facilitei tanto para você, não é? Você não teve trabalho algum. Ficou fácil quando num lapso de tortura masoquista em que te pedi um beijo, o mais banal e simples deles que deveria ser uma manifestação natural de desejo, me fez perceber que havia uma voz dentro que ecoava e implorava por um basta. Aquilo não tinha que ser pedido. Não era assim que eu tinha que ser lembrada. Quando é preciso lembrar que algo seja natural, é porque já está artificial demais.

A gente não precisa lembrar ninguém de lembrar da gente.

Ouvi essa voz que constantemente eu silenciava, pedia para ter um pouco mais de paciência, mas dessa vez, cansada e triste demais para exigir o natural, perguntou da forma mais honesta que podia se eu era uma escolha. Eu não era. Houve rodeios, houve tentativas de disfarçar, mas eu não era. Eu não era lembrada, eu era uma lembrança.

Ouvir isso em voz alta fez a voz ter certeza do que ela já me avisava há tempos. E a dor de ela estar certa, de que eu havia feito tanto esforço quando já era só uma lembrança foi como me chicotear inúmeras vezes. E sabe o que mais dói? Você viu que eu estava me chicoteado e em momento nenhum você impediu ou disse que não precisava mais. Acho que mesmo me vendo me chicoteado você não tinha o trabalho de me dar minha liberdade enquanto você vivência a a sua já.

E meu senso de justiça é um valor tão intrínseco que me escapa pelos poros. Sentir que cometi uma injustiça comigo dói mais até do que a injustiça que você cometeu comigo - e olha que essa dói muito também porque achava que você era mais corajoso para arrancar chicotes. Esse valor era meu refletido em você. Espero que tenha aprendido também.

E agora eu estou decidindo por largar o chicote, mesmo com medo, porque apesar de ser um lugar que eu conheço, sentir dor ainda é dor, por mais que você já saiba como vai doer. E é preferível mergulhar no desconhecido do que continuar a ocupar um espaço pequeno.

Dói ter que sair daqui, mas eu não preciso mais ser uma lembrança. Eu posso ser lembrada. E eu preciso me lembrar de mim.

setembro 05, 2022 No comentários

 Eu sempre gostei do conceito de se olhar no espelho, não só por vaidade, mas pela capacidade de se imergir por minutos em si mesmo se olhando por ângulos e tendo um pouco da experiência dos outros ao te olhar. É um bocado engraçado o quanto dá para se conhecer de frente para um espelho, mas normalmente qualquer reconhecimento de si, é vaidade e/ou egocentrismo.

Digamos que aos 25 não tenho muito mais espaço em mim para que minha vaidade seja determinada pela régua dos outros, portanto, esse texto nada mais é do que um espelho.

Comecemos pelas feições, que nesses últimos meses, mudaram tanto. Por semanas foram tristes, o lábio caído num arco para baixo, os olhos fundos, a expressão cansada, têm dado lugar a expressões engraçadas, as mesmas olheiras, mas com os olhos semiserrados num sorriso aleatório. O maxilar continua anguloso devido a constante mania de tensioná-los acidentalmente.

Veja, olhando para você agora, a culpa não lhe veste tão bem quanto antes. Ela é desajustada, incomoda, até um pouco cafona, sabe? Como se a época de vesti-la fosse anos atrás. Ou talvez nunca foi muito seu estilo. Nessa troca de roupa, a culpa precisou ser substituída por algo que você sempre gostou em outras pessoas, mas que achava que não lhe caia bem. Sabe aquela falta de preocupação de saber que errou, mas não se importar muito com isso?

Isso lhe caiu muito bem! E não, não estou falando sobre a incapacidade de ajustar a preocupação, mas de vesti-la de outra forma. É como se você entendesse que essa culpa violenta de nada lhe serve, que é muito melhor saber que há peças em si que vão lhe desfavorecer e que talvez precise de ajustes, mas que elas não precisam ficar escondidas na gaveta.

Como se você entendesse que maquiagem é boa, mas quando te desfigura, te torna outra pessoa? Você não parece consigo mesma?

Não tem sido fácil olhar no espelho, mas fique feliz de olhar cada vez mais fundo e por outros ângulos. Nem sempre teu lado mais bonito é o mesmo.

agosto 18, 2022 No comentários
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Olá, sou a Lari e tenho 27 anos - e há mais de quinze anos escrevo algumas coisinhas para internet. Sou formada em Relações Públicas e trabalho com marketing de influência. Adoro consumir cultura e divulgar dicas por aí.

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