flowers (ou como mulheres não podem falar como estão)
tem sido uma semana interessante no mundo da música mainstream: tivemos o lançamento de flowers da miley cyrus que é uma verdadeira ode a autoestima e autossuficiência. também veio aí o hino do shade para homens medíocres cantado por shakira.
existe todo um misticismo de que as pessoas tem escrita mais criativa quando estão tristes ou com raiva. eu me vi, por diversas vezes, acreditando nessa premissa e inconscientemente não me incentivando a escrever quando estou feliz porque (abre aspas) o texto não ficará tão bom ou profundo (fecha aspas). e isso não é diferente no mundo da música - tendemos a cantar a plenos pulmões as canções que entoem as emoções tidas como negativas ou ruins porque, talvez, fique mais fácil de lidar com elas.
mas também é porque não suportam a ideia de ver uma mulher feliz sozinha se isso fere o ego ou a reputação de um homem. por exemplo, miley foi super elogiada por malibu ser uma música felizinha que fala sobre amor, mas quantas vezes foi criticada por lançar músicas como mother's daughter ou plastic hearts que também são músicas alegres, mas as letras são recheadas de autorreconhecimento e imposição de limites? o que gera tanto incomodo?
Fonte | Twitter |
o óbvio em relação ao piqué e a shakira é que ela constantemente está sendo atacada como a imatura, a que não superou o relacionamento, a que está querendo lucrar em cima do fim do casamento e, mais uma vez, a cobrança da maturidade, da maternidade de um homem adulto formado e a responsabilidade pela boa reputação dele enquanto um pai e ex-marido ficam sob responsabilidade dela. nem depois de absurdos dentro de relacionamento ela tem o direito de expor o que sente.
"ah, mas precisava?" sim, ela é uma artista. alguém está atazanando o justin timberlake por ter feito um clipe de cry me a river com uma sósia da britney spears? ou por ter lucrado horrores com o lançamento de what goes around... comes back around? hm, foi o que eu pensei.
o justin nunca teve que ajudar a reconstruir a reputação da britney. nem o whindersson da luisa sonza. nem o brad pitt da angelina jolie (eu poderia citar, literalmente, mais de mil referências, mas acho que vocês já estão conseguindo entender, assim espero). todas as mulheres tiveram que, por conta própria, enfrentar o julgamento de toda uma sociedade com suposições e conclusões infundadas. todas elas foram responsáveis pela construção e reconstrução da própria imagem. e também responsáveis pelos homens com os quais se relacionaram - não a toa, qual é a imagem pública que todos têm desses queridos? a carga sempre fica conosco, mesmo quando há a mesma forma de expressão artística.
em nenhum momento shakira ou miley falaram que a música foi para os exs. e por que é de responsabilidade delas que eles pareçam bonzinhos quando eles não foram? por que elas não tem o direito de expressar a plenos pulmões a dor delas? por que a reputação deles é mais importante do que como elas se sentem?
"eles seguiram a vida e não estão falando mal delas por aí" há quem comente. bom, talvez eles não estejam falando mal justamente porque não há muito o que ser falado. talvez não seja proporcional ou cabível vir a público criticar a ex, publicamente ou não, depois de tanta negligência emocional. ainda assim, com tanta ferida, fica a carga para elas de lidar com os próprios sentimentos, os ataques vindos de todos os lados e a reputação desses queridos.
socialmente não estamos prontos para vermos mulheres responsabilizando publicamente homens adultos por seus erros e ser responsabilidade única e exclusivamente deles a reconstrução da própria imagem, mas já estamos bastante acostumados e coniventes quando é o contrário.
mas bom, para quem continua incomodado, as mulheres já não choram mais, as mulheres faturam.
Fonte | Twitter |
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